ESCATOLOGIA
1. O FIM DO MUNDO
“Escatologia” é a “doutrina das últimas coisas”. Todo apocalipse é escatológico, mas nem toda escatologia é apocalíptica. Para estabelecer uma doutrina, é preferível usar os textos proféticos (Mt 24,25; 1Co 15; 1Ts 4,5; 2Ts 2; 2Pe 3) aos apocalípticos (Dn, Ap), que são simbólicos.
O mundo vai acabar? Não há dúvida quanto a isso. Quando e como? A Bíblia atesta o fim (Mt 24.1-3,29; 2Pe 3.7,10-13; Is 34.4; Ap 6.13,14; 21.1). Destruição total do planeta. Não um paraíso na Terra, como querem as Testemunhas de Jeová.
Deus mantém a data em segredo (Mt 24.36,44,50; 25.13; At 1.7; 1Ts 5.2; 2Pe 3.10). Prever datas é antibíblico. Não há porque nos deixarmos enganar.
Não podemos marcar datas, mas podemos identificar sinais da aproximação do fim do mundo (Mt 24.32,33): falsos profetas (Mt 24.5,11; 2Pe 2.1; 1Jo 4.1); guerras e rumores de guerras (Mt 24.6; Zc 14.13; Ap 6.4); fomes e pestes (Mt 24.7; Lc 21.11; Ap 6.5,8); terremotos (Mt 24.7; Ap 11.13); perseguição generalizada (Mt 24.9; Mc 13.12,13; 1Pe 4.12); escândalos, traição e ódio (Mt 24.10; 2Tm 3.13; Jd 1.18); multiplicação da iniqüidade e esfriamento do amor (Mt 24.12); pregação do evangelho a todo o mundo (Mt 24.14; At 1.8); paz enganosa (1Ts 5.3; Mt 24.37-39); surgimento do anticristo (2Ts 2.1-4; 1Jo 2.18,22; Ap 13.18).
Estamos preparados (2Pe 3.9-14)? É isso o que importa.
2. A GRANDE TRIBULAÇÃO
Antes da volta de Cristo e do fim do mundo haverá a maior perseguição já vista (Mt 24.21). Em seu sermão profético, Jesus previu a queda de Jerusalém (70 dC) e a usou como “tipo” da grande tribulação (Mt 24.29,30). Ela será intensa; será universal; será marcada pela apostasia; será comandada pelo anticristo.
Quem é o anticristo? Todo o que é contra Cristo (2Jo 1.7); mas, em particular, o líder da grande tribulação (2Ts 2.1-4). Ele será um homem (Ap 13.18); ele será usado por Satanás (Ap 13.1,2); ele terá apoio religioso (Ap 13.11,12); ele será um líder mundial (Ap 13.8); ele perseguirá os crentes (Ap 13.7). Por enquanto, algo detém a sua manifestação (2Ts 2.6-10). O quê? A igreja, o Espírito Santo? O mandado de Deus!
A igreja passará pela grande tribulação (Ap 3.10; 7.13,14; 13.7; At 14.22). “Pré-tribulacionismo” não é bíblico. A tribulação culminará numa campanha mundial de extermínio dos crentes (Ap 13.16,17; 16.13-16). Ela terminará com a intervenção direta da volta de Cristo, a “parousia” (Ap 19.11-21).
A situação atual é favorável ao cumprimento dessas profecias. Ecumenismo, Nova Era, globalização, unificação política e econômica, controle tecnológico, apostasia cristã. Isso não nos traz medo, mas alegria: breve Jesus voltará (Lc 11.25-28).
3. A VOLTA DE CRISTO
Deus nunca deixou de cumprir uma promessa, e a volta de Cristo é a promessa mais repetida na Bíblia (Jo 14.1-3; Hb 9.27,28; 2Pe 3.9). Identificamos os sinais. Como será?
A volta de Cristo encerrará a grande tribulação. Ele virá em socorro dos seus (Ap 20.9); aniquilará o anticristo (2Ts 2.8); banirá o diabo (Ap 20.10).
A volta de Cristo será visível. Todo olho o verá (Mt 24.29,30; At 1.9-11; Ap 1.7). Não há “volta invisível” de Jesus na Bíblia, como querem os adventistas e os pré-milenistas.
A volta de Cristo será acompanhada dos anjos. Todos eles o acompanharão em sua glória (Mt 25.31; Jd 1.14,15). O que era invisível será visto.
A volta de Cristo ressuscitará os mortos. Simultaneamente, os mortos ressurgirão, transformados (Dn 12.2; Jo 5.25-29). Todos: salvos e perdidos.
A volta de Cristo transformará os vivos. Isso ocorrerá logo após a ressurreição dos mortos (1Co 15.50-52). Todos receberão um corpo eterno, incorruptível.
A volta de Cristo arrebatará os salvos. Quer ressuscitados, quer transformados, irão unir-se a Jesus nas nuvens (Mt 24.29-31,40,41; 1Ts 4.13-18). “Boas-vindas”!
A volta de Cristo encerrará as oportunidades. Não haverá mais chances de salvação (Ap 6.12-17). Por isso será dia de lamento. Aproveitemos o tempo (Jo 9.4).
A volta de Cristo iniciará o juízo final. Terá início o julgamento (Mt 25.31,32; At 17.21; Jo 5.22; Rm 2.16; 2Tm 4.1). Depois, haverá a separação final.
4. O MILÊNIO
As principais posições escatológicas cristãs derivam de interpretações de Ap 20.1-10. Normalmente, essas interpretações são extrapoladas para o resto da Bíblia. As 3 mais comuns, e suas expressões mais comuns, são:
PÓS-MILENISMO: Afirma que o milênio é uma realidade terrestre. A igreja evangelizará o mundo e o converterá. Então haverá um longo período de paz na terra (milênio). Depois emergirá um período de apostasia e maldade, lideradas pelo anticristo. Jesus voltará, ocorrerá a ressurreição, o arrebatamento e o juízo. Posição defendida por Ticônio (Séc IV), Holis Head (Séc XIX) e Wodrow Wilson (Séc XX). Incentivou o imperialismo americano, o nazismo, etc. A Bíblia nega a conversão do mundo (1Jo 2.15-17; 5.19). Diz que ele vai piorar (1Tm 4.1; 2Tm 3.1-5,13; 4.3,4).
PRÉ-MILENISMO: Também afirma que o milênio é uma realidade terrestre. Cristo o estabelecerá com sua volta. Será precedido pela grande tribulação e o arrebatamento da igreja. Satanás será amarrado. Israel se converterá e reinará com Cristo. Depois de mil anos Satanás será solto. Haverá uma nova revolta. Virá o juízo final. Os ímpios mortos ressuscitarão. Virá o juízo final, que determinará o destino eterno das pessoas. Posição defendida por Justino (Séc II), Irineu (Séc II), Padre Ribeira e Belarmino (Séc XVI), J. N. Darby (Séc XIX), Scofield (Séc XIX), Win Malgo (Séc XX), “Deixados Para Trás” (Séc XXI). Cristo desfez a distinção entre judeus e gentios (Rm 2.28,29; 10.12; Gl 3.28,29). Cristo não veio salvar os judeus, e sim o mundo (Jo 1.29; 3.16; 4.42). O reino de Cristo não é político (Jo 18.36; Lc 17.20,21; Rm 14.17; 1Co 15.50). Não haverá uma restauração da Lei (Gl 2.16; 3.3; Hb 8.13; 10.4). A Bíblia não prevê duas voltas de Cristo (Hb 9.27,28), nem uma volta invisível (Ap 1.7), nem um arrebatamento invisível (1Ts 4.16,17), nem uma ressurreição só de salvos (Jo 5.28,29).
AMILENISMO: Afirma que o milênio é simbólico. Não haverá um reino terrestre de Cristo com mil anos de duração. Após a grande tribulação, Jesus voltará. Sua volta ressuscitará todos, arrebatará a igreja e trará o juízo. Posição defendida por Agostinho (Séc IV), Lutero (Séc XVI), Calvino (Séc XVI), todas as igrejas evangélicas até o Séc XX, declaração doutrinária da Convenção Batista Brasileira. Mil anos é um tempo simbólico (Sl 90.4; 2Pe 3.8). Satanás amarrado = limitado (Mc 3.27; Lc 10.18; 11.21,22; Jo 12.31; 16.11). Só haverá uma volta de Cristo. Ela será visível. O arrebatamento será visível. Todos ressuscitarão, seguindo-se o juízo final e a separação eterna.
ANÁLISE AMILENISTA DE APOCALIPSE 20.1-10: Satanás é amarrado apenas no sentido de enganar as nações tornando-as perseguidoras (1-3). A primeira ressurreição é a espiritual (Col 3.1). A segunda é a física. A primeira morte é a física. A segunda é a espiritual. Os salvos reinam com Cristo no céu (4-6). Novamente liberado para enganar as nações, Satanás promoverá a grande tribulação (7,8). Jesus voltará, salvará a igreja, lançará Satanás no inferno, iniciará o juízo final (9,10).
5. O NOVO CÉU E A NOVA TERRA
Novo céu e nova terra é o destino final da família de Deus (Sl 115.16). Uma longa jornada.
Estado intermediário. O que há depois da morte? “Ninguém voltou”. Jesus sim! E contou (Lc 16.19-31). Os mortos estão conscientes, separados, antecipam em espírito (Ap 6.9-10; 7.9-17). Aguardam lugar definitivo.
Juízo final. Após a ressurreição, a transformação e o arrebatamento, virá o julgamento, o destino eterno e o galardão. Cristo será o juiz (2Tm 4.1). A humanidade, os réus (2Co 5.10). Livros das obras X livro da vida (Ap 20.11-15).
Inferno. “Geena”, fogo que não se apaga (Mc 9.43,44), verme que não morre (Is 66.24), companhia dos perversos (Sl 9.17), presença dos demônios (Mt 25.41), vista do céu (Lc 13.28). É um lugar, e é eterno.
Novo céu e nova terra. Capital: Nova Jerusalém (Ap 21,22). Companhia dos salvos (Ap 22.14), presença dos anjos (Hb 12.22), alegria eterna (Ap 21.4), a face de Jesus (Ap 22.3-5). É um lugar, e é eterno.
Tudo o que aprendemos sobre escatologia deve encher-nos de santo temor, de zelo evangelístico, de inabalável coragem, de urgente arrependimento e de extrema alegria.
(*) Pr Marcelo Rodrigues de Aguiar é pastor adjunto da Igreja Batista em Mata da Praia, professor do SETEBES – Seminário Teológico Batista do Estados do Espírito Santo, bacharel em Teologia e Psicologia, Psicólogo clínico e escritor.