Desse mundo globalizado onde tudo é muito rápido e não há tempo para quase nada, inclusive para alimentar-se com cuidado, herdamos as disfunções alimentares e suas conseqüências. Por outro lado, a pressão da sociedade para estarmos sempre belas e jovens nos obriga a correr atrás do prejuízo. Por conta disso fazemos verdadeiras loucuras para nos mantermos magras e lindas. E muitas vezes perdemos completamente o controle. Quando vemos, já estamos obesas! Muito além de problemas estéticos e de auto-estima (não menos importantes), a obesidade compromete a saúde da mulher como um todo. Vários problemas sérios, como hipertensão arterial, diabetes, doenças do coração, aumento de colesterol, apnéia do sono e osteoartrose são mais prevalentes nos obesos. Além disso, a mulher obesa está mais sujeita a problemas ginecológicos, como Síndrome dos Ovários Policísticos, Diabetes Gestacional e Hipertensão Gestacional, além de um aumento da morbidade materna e fetal durante a gestação.
Para saber se você está no grupo de risco, existe uma conta muito simples e muito conhecida: trata-se do cálculo do IMC (Índice de Massa Corporal). Você divide o seu peso (em kg) pela sua altura ao quadrado (em metros). É considerado normal o IMC entre 18,5-24,9. Entre 25 e 29,9, pré-obeso. Entre 30-34,9, obesidade grau 1; 35-39,9, obesidade grau 2 e acima de 40, obesidade grau 3. O grau de obesidade está diretamente relacionado com risco de complicações. Um problema desse cálculo é que o IMC não distingue massa magra de massa gordurosa, podendo superestimar o grau de obesidade em pessoas muito musculosas. Para uma melhor avaliação do grau de adiposidade, existe um exame que se chama bio-impedância, que precisa a porcentagem de gordura do corpo. Acima de 33% de gordura, se define como obesidade.
Outro dado muito importante da adiposidade é a sua disposição. Sabe-se, atualmente, que o excesso de gordura localizado na região abdominal, também chamado de gordura central, ou “em maçã”, está mais relacionado a complicações metabólicas e cardiovasculares do que a gordura de distribuição na região dos quadris, ou obesidade periférica, ou “em pêra”, mais comum nas mulheres. Para isso, existe o cálculo da relação cintura-quadril, onde se divide o valor da medida da cintura pela do quadril. Índices maiores que 0,85 em mulheres definem distribuição central de gordura. Mais recentemente, a medida isolada da circunferência da cintura tem mostrado ser suficiente para estabelecer risco, sendo considerado 80 cm o valor normal para mulheres.
Obviamente, nós mulheres, quando estamos obesas queremos logo emagrecer, geralmente motivadas pela estética. Queremos voltar a vestir aquela calça 38. Queremos resgatar nossa auto-estima. Mas antes disso, precisamos resgatar nossa saúde e nosso bem-estar. O objetivo não deve ser só perder peso, mas mantê-lo posteriormente. Perder peso é muito fácil: duro mesmo é nos mantermos magras. Isso sim é desafio. Então vamos lá! Em primeiro lugar, do ponto de vista metabólico, perdas de 5 a 10 % do peso corporal podem melhorar em muito a pressão arterial, as alterações de colesterol e triglicérides, o diabetes e o número de apnéias durante o sono. É muito importante estabelecer metas atingíveis, com expectativas realistas, para não gerar frustrações e a sensação de que o tratamento não está funcionando. Além disso, o tratamento não se restringe a perda de peso isoladamente, mas a mudanças dos hábitos de vida, incorporando treinamento físico e dieta balanceada como rotina no dia-a-dia.
Primeiro passo: dieta. Eu sei.... não é nada fácil.... a longo prazo, manter uma dieta muito restritiva pode ser impossível! Comece fazendo um diário alimentar. Anote tudo o que comer: os horários, os fatores emocionais relacionados (aquela caixa de bombom que você comeu após brigar com o namorado), os períodos de jejum e as compulsões, como ir à geladeira de madrugada e comer tudo que tinha lá dentro. Com o diário, seu médico pode identificar os erros e acertos alimentares, e ajudar na escolha da melhor medicação. Uma nutricionista vai ajudá-la a montar um cardápio especial, mas como regra geral a dieta deve ser pobre em gorduras e rica em fibras, como frutas e vegetais. Não abra mão da nutricionista.
Segundo passo: avaliação comportamental. Que?! Isso mesmo, ver como você anda se comportando frente ao tratamento e sua relação com a comida. Deve-se avaliar sua motivação, desajustes alimentares, como comer muito rápido, compulsões alimentares, hábitos noturnos, ou até mesmo transtornos alimentares, como bulimia nervosa, além de avaliar o grau de atividade física espontânea, como o aumento de caminhadas, o uso de escada ao invés do elevador, a redução do uso do automóvel, etc. O médico identifica os problemas e propõe as mudanças necessárias. Nesse passo, a ajuda de um psicólogo pode ser fundamental.
Terceiro passo: atividade física supervisionada. Aqui os exercícios aeróbicos, que proporcionam uma maior queima calórica, devem entrar em ação. Escolha o seu preferido: vale nadar, correr, caminhar, dançar, fazer bike, boxe ou outra luta. Não importa. O importante é mexer o corpo, numa freqüência regular de 4 vezes por semana. Aos poucos você vai se apaixonar por esporte e não vai mais conseguir viver sem se exercitar. Procure uma boa academia ou um personal trainer.
Quarto passo: medicamentos. Muitas pessoas querem pular direto para esse passo. Querem milagrosamente tomar uma medicação que as deixem magras o mais rápido possível. Mas isso não é o ideal. Existem várias classes de medicações usadas como adjuvantes no tratamento da obesidade, nenhuma delas sem efeitos colaterais. Existem três grupos básicos: os anorexígenos de ação central, os termogênicos e os que alteram a absorção de nutrientes. Devem ser usados quando houver falha no tratamento não-farmacológico; só o seu médico pode decidir qual a melhor opção para você. Não é à toa que essas medicações são de venda controlada, por isso, não tome sem prescrição. Só porque funcionou para sua vizinha não quer dizer que também está indicado para você. Cada paciente deve ser avaliado e acompanhado individualmente. E muito cuidado com as fórmulas para emagrecer! Elas são muito mais nocivas que benéficas, e médicos sérios geralmente não prescrevem esse tipo de medicação.
E quanto às cirurgias para reduzir o estômago? Claro, são opções na obesidade mórbida, mas como são cirurgias muito invasivas, reservam-se para casos graves.
Concluindo, a obesidade é o nosso vilão do século XXI. Devemos ser vigilantes a todo tempo. A prevenção é o melhor remédio. Por isso, priorize os horários de suas refeições, faça desse tempo um momento de cuidado próprio, procure ler e se inteirar sobre nutrição, enfim, coma com prazer e moderação e sinta no dia a dia os benefícios de comer bem. Ame fazer esportes, exercite-se, seja ativa, coloque a preguiça para escanteio! Em vez de ver novelas, vá para uma academia! Tenha corpo e mente saudável e viva mais e melhor! Um beijo e ótima semana!